domingo, 26 de outubro de 2014

O consumo ultrapassa fronteiras

    Nas sociedades capitalistas, a venda e o consumo movem a economia. No entanto, segundo o antropólogo argentino contemporâneo Néstor García Canclini (1939), consumir também abrange outras análises, entre elas, sociais e políticas. Em seus estudos sobre cultura na pós-modernidade, Canclini
interligou esse hábito à mídia, economia e, consequentemente, à globalização.
    Em seu livro “Consumidores e Cidadãos”, o antropólogo destaca que “o confronto das sociedades modernas com as ‘arcaicas’ permite ver que em todas as sociedades os bens exercem muitas funções e que a mercantil é apenas uma delas”, ou seja, artefatos indígenas, por exemplo, a partir do momento em que são comprados e expostos em imóveis urbanos ou museus, perdem seu valor econômico e passam a ser de valor cultural. A mesma coisa acontece em viagens à outros países, em que é comum a compra de mercadorias características do lugar, para servirem, mais tarde, de recordação. Essas situações proporcionam uma integração cultural através do consumo.
     A arte também se transforma em mercadoria quando uma música produzida por valores estéticos passa a fazer sucesso e gerar lucro. Ou ainda, quando um artista se torna popular e suas obras são estampadas em diversos objetos, como por exemplo, os trabalhos do pintor Romero Britto.
     A mídia também proporciona a relação entre diferentes culturas. Podemos perceber essa característica devido às grandes produções cinematográficas, que nem sempre podem ser produzidas somente com material nacional, e também os noticiários, que não poderiam informar o que acontece fora das fronteiras sem colocar zonas distantes em contato, conectando todos como “parte de uma totalidade”.
     Com o consumo ultrapassando fronteiras e diferentes estilos de vida, surgiu a necessidade de produzir bens de consumo que agradassem a
grupos do mundo todo. Considerando novamente o cinema, nesse contexto, as representações nas telonas já não poderiam ser algo excessivamente regional, pois não seriam aceitos de forma mundial. Então, através das estratégias de marketing, o “cinema-mundo” promove-se em uma tecnologia visual adaptada a ser bem recebida em um mercado de escala mundial. O próprio Homem-Aranha precisou de modificações para ser aceito e lançar suas teias na China e na Índia. Nesses países isso ocorre também com diversas marcas de grande nome,
como Starbucks, American Express e Unilever (http://www.knowledgeatwharton.com.br/article/do-venti-latte-ao-homem-aranha-as-marcas-globais-se-adaptam-para-conquistar-a-china-e-a-india/); e também com a mundialmente famosa Coca-Cola, que teve que ajustar suas garrafas para se adaptarem à refrigeradores espanhóis.
     A globalização sofre diversas críticas, mas através do consumo transnacional é possível ligar diferentes culturas ao mesmo tempo que promover uma adaptação cultural mundial, sem perder suas próprias características. Como afirma Canclini, as nações e etnias continuam existindo, basta “entender como as identidades étnicas, regionais e nacionais, se reconstroem em processos de hibridização intercultural”.

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