domingo, 30 de novembro de 2014

A demanda da identidade

Jesús-Martin Barbero é um espanhol nascido em Ávila, em 1937, que firmou residência na Colômbia. Estudou principalmente os meios de comunicação em massa, com foco no sujeito e nas mediações sociais. Com os meios de comunicação cada vez mais globalizados, ele explica que existe uma tendência à uniformidade, principalmente com o marketing sempre na tentativa que racionalizar tudo aquilo que o consumidor sente, para assim sintetizar os meios necessários para atingir o consumidor. Mas isso, na prática não acontece como os grandes mercados desejariam. Mesmo que tentem conhecer profundamente as necessidades das pessoas, para assim direcionar a elas aquilo que as satisfaça, o resultado é que não há a satisfação total, uma vez que não estão todos completamente felizes. Assim, de uma certa forma, aquilo que se tenta vender como sendo o que todos gostam, ou procuram, como uma maneira de direcionar ou controlar o consumo, não se concretiza totalmente, pois o controle está também com aquele que consome. Se as táticas comerciais globais funcionassem efetivamente, não haveriam conflitos sociais, turbulências entre classes ou insatisfação com o próprio, perante as posses alheias.

O autor destaca ainda que as novas tecnologias fizeram com que a cadeia de relação entre a produção e o consumo se modificasse, através dos novos modos de comunicação. A globalização não só mercantilista, mas também a de sistemas de informação, acaba por exercer influência na manutenção e formação de novas culturas, que agora possuem origens diversas, que se identificam partindo de diferentes regiões, povos, etnias e se encontram por quesitos de afinidade em opiniões e consumo, e não mais principalmente pela convivência física regional. Barbero propõe ainda algumas idéias, como pensar a comunicação por um  meio de desenvolvimento e inserção de diferentes culturas, as reconfigurações políticas que as diferenças globais provocam, as mutações tecnológicas que abrangem as informações, além do surgimento e morte das identidades.

Uma das principais idéias ou conceitos do autor, são as Mediações. Segundo ele, as mensagens passam por espaços, de natureza simbólica ou representativa entre o emissor e o destinatário, onde existem multiplas variáveis. Isso pode fazer com que o receptor não perceba a mensagem da mesma forma ou intenção que o emissor quando a produziu, e essas mediações seriam estratégias de comunicação. Ele ainda classificou alguns tipos de mediações:

Mediação Estrutural: são aquelas relacionadas as influências do contexto social, classe e convivência.
Mediação Institucional: aquelas realizadas pelo papel da igreja, partidos e escola.
Mediação Conjuntural: entra no contexto do receptor, faz uma imersão no modo de vida de quem recebe a mensagem.
Mediação Tecnológica: relacionadas ao cinema, rádio e tv, entre outras. Permite o estudo das lógicas dos sistemas produtivos e a lógica de seus usos.


Podemos observar algumas de suas idéias no modo como a população reage às novelas e filmes. Classes sociais diferentes interpretam o universo mostrado na tela a partir dos seus pontos de vista, e muitas situações podem causar impactos distintos. Comumente, nas novelas, mostra-se o cotidiano de pessoas de alta renda em bairros nobres do Rio de Janeiro, levando uma "boa vida", enquanto que na periferia a realidade é outra. Receptores de ambas as classes podem ver essas situações de forma natural (quando inclusos), pejorativa ou irreal, quando não fazem parte daquele quadro, ou quando acham que o que veem não se adequa ou corresponde a realidade em que vivem. Séries como "Sexo e as Nega" levantaram muitas questões acerca de racismo, estereótipos e discriminação. Mas essas impressões variam de acordo com a bagagem cultural daquele que vê, sendo que muitos se identificaram com as personagens, enquanto que outros pediram a suspensão da série. Nesse exemplo, podemos ver claramente que o emissor buscou mergulhar naquele universo, mostrando o que influencia nas decisões das pessoas daquele contexto, como a religião, a cultura e os valores familiares.

Links sobre a série Sexo e as Nega, e algumas repercussões



http://gshow.globo.com/programas/sexo-e-as-negas/
http://oneirophanta.org/2014/09/17/10-motivos-obvios-para-nao-ver-sexo-e-as-nega/
http://www.cartacapital.com.br/blogs/qi/sexo-e-as-nega-e-o-brasil-que-nao-entende-ironias-2211.html
http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/o-oposto-do-racismo


Alguns links interessantes sobre Barbero:

http://www.revistas.ufg.br/index.php/ci/article/download/29187/16310

http://www.cambiassu.ufma.br/cambi_2009/dantas.pdf

http://www.youtube.com/watch?v=t0Asm0s9e8g


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