quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Sr. Jenkins vai recebê-los agora


Antes da popularidade da internet nos anos 90, os fãs de séries de televisão, filmes e quadrinhos já escreviam histórias sobre seus personagens favoritos, e é claro que as empresas detentoras dos direitos autorais sabiam que esse tipo de coisa acontecia, mas é um pouco difícil controlar o que os fãs criam quando seus contos são conhecidos apenas por amigos e alguns fãs da série que a pessoa encontrou em uma convenção.
Entretanto a web ofereceu um novo espaço para as criações de fãs, conhecidas como fanfictions, e “os fãs sempre foram os primeiros a se adaptar às nova tecnologias”, escreveu o americano Henry Jenkins, em seu livro Cultura da Convergência. Ou seja, a internet representou e representa um lugar onde se pode experimentar e inovar, onde os ficwriters (escritores de fanfics, para quem não sabe) desenvolvem diferentes estilos de escrita e histórias que até podem ser consideradas controversas por grandes empresas como a Lucasfilm (produtora da saga Star Wars), e a Warner Bros. (dona dos direitos autorais de Harry Potter).
As histórias com conteúdo adulto são o principal exemplo de controverso, afinal a Lucasfilm começou a
emitir alertas aos fãs que escreviam histórias sobre seus personagens favoritos, envolvendo-os em cenas de sexo explícito, apesar de liberar contos não eróticos. O mesmo aconteceu quando a série do bruxinho inglês Harry Potter começou a ganhar fama, porque a própria J.K. Rowling, autora dos livros, incentivava a escrita por parte dos fãs, mas pedia que fossem de conteúdo livre, e liberou para que a Warner emitisse alertas, caso sites com conteúdo adulto veiculassem alguma relação com os personagens da série.
Pode-se dizer que George Lucas (criador e fundador da Lucasfilm) e autores de ficção infanto-juvenil como J.K. Rowling se identificaram muito mais com os jovens que queriam ser cineastas, e faziam fanfilms que um dia poderiam abrir-lhes as portas de Hollywood, ou adolescentes que escreviam contos fantásticos para serem lidos por todas as idades do que com escritores que compartilhavam suas fantasias classificadas para maiores de 18 anos.
Os fãs não tinham total apoio dos criadores de suas histórias prediletas, e talvez tenham ficado decepcionados ou xingado muito no twitter, ou em qualquer outra rede social que as pessoas usavam na época, mas isso não mudou o fato que eles não pararam de criar. Há todos os tipos de história em sites dedicados à essas franquias, mas não só sobre elas. O Fanfiction.net, que conta com mais de 5.300.000 fics, em mais de 30 línguas, é um dos sites mais conhecidos no universo de criação de fãs sobre inúmeros livros, filmes, séries de tevê, mangás e bandas famosas, e foi nesse site que uma fã da saga Crepúsculo postou uma fanfic que veio se tornar o fenômeno editorial que ficou conhecido como Cinquenta Tons de Cinza.
A verdade é que esse tipo de criatividade alternativa encontrou-se com a Indústria Midiática, Jenkins utiliza um capítulo de seu livro tentando explicar-nos melhor essa situação, e ele afirma que “num mundo assim, os trabalhos dos fãs não podem mais ser encarados como simples derivados de materiais comerciais, e sim como sendo eles próprios passíveis de apropriação e reformulação pelas indústrias midiáticas”, e foi 
exatamente isso que aconteceu com o trabalho de Érika James. Ela era apenas uma inglesa apaixonada por uma saga de romance vampiresco, que criou uma fic em um universo completamente novo e menos fantasioso, isso se levarmos em conta que os vampiros e outros seres dos contos de fadas não fazem mais parte da história que ela inventou.
A fanfic Master of the Universe deixou a web em 2011 para virar a trilogia Cinquenta Tons de Cinza, se tornar um fenômeno editorial em pouco tempo, ficar semanas nas listas dos mais vendidos em vários países do mundo, e se tornar um dos livros eróticos mais conhecidos da atualidade. O filme baseado na história de Christian Grey e Anastasia Steele já foi até gravado. O lançamento acontecerá no dia 14 de fevereiro do ano que vem. Como disse Jenkins, nesse mundo que vivemos, “os produtores precisam dos fãs tanto quanto os fãs precisam deles”.





Postado por: Yasmin Machado Dias



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